Neste domingo, dia 30 de março de 2025, a Santa Missa foi celebrada pelo Padre Gustavo Hanna Crespo, reitor do santuário.

Em sua homilia, ele disse que o padre está de rosa pela liturgia, que nos propõe meditar, através de símbolos e sinais, o tema da esperança. Ou seja, a Antífona de entrada fala: “Alegre-se!” Esse “alegrar-se” no tempo da Quaresma mostra que esse tempo de preparação está acabando e que a nossa maior alegria, que é Cristo ressuscitado, está perto. É um tempo em que a Igreja, com sua sabedoria, nos diz: “Já chegamos à metade do caminho de preparação, falta pouco. Vamos seguir fiéis aos propósitos, fiéis na penitência, na caridade, no jejum e na oração.” Por isso, a liturgia de hoje nos apresenta um dia que nos mostra a esperança e a perseverança na preparação da Quaresma, para nos encontrarmos com Jesus.

Hoje, a Igreja também se alegra porque, neste domingo, aqueles adultos que serão batizados na Vigília Pascal têm sua apresentação diante do povo, e é feita a pergunta à comunidade. Esta é uma alegria para a Igreja, pois novas pessoas, no período da Páscoa, vão se incorporar à realidade do batismo, e vamos meditar hoje sobre como somos filhos e filhas de Deus pelo batismo.

Escutamos o Evangelho, tão conhecido, provavelmente por aqueles que participaram de retiros de jovens. Este Evangelho já foi ouvido e meditado tantas vezes, ou às vezes lido em retiros, e fala sobre a necessidade de voltarmos para Deus. Como ele nos toca no Evangelho de hoje, há uma realidade na nossa vida em que nos aproximamos, e todos aqui, ou quase todos, têm irmãos. Provavelmente, em algum momento, já passou um pensamento intruso: “Será que sou o preferido? Será que minha mãe e meu pai gostam mais de mim do que do meu irmão?” Ou, às vezes, tenho a certeza de que sou o filho preferido. Em algum momento da vida, já sentimos essa realidade de ser filho e perguntar: “Sou o predileto?” Ou até mesmo ficamos com esse pensamento e chegamos a confrontar nossos pais: “Por que você ama mais o meu irmão do que a mim? Parece que você cuida mais dele do que de mim.” E a resposta dos pais é: “Eu amo os dois por igual. Ou, talvez, ele precise de mais atenção do que você, mais cuidados do que você. Isso não significa que eu o ame mais, mas que ele precisa de mais preocupação.”

No Evangelho, vemos o que acontece com o filho mais novo: o pai lhe dá a liberdade de escolha: “Dá-me o que é meu, e eu vou seguir o meu caminho.” Mesmo que isso cause dor no coração do pai, ele permite que o filho siga seu próprio caminho. O pai cria o filho para a liberdade, ensina-lhe o caminho, mas o educa para a liberdade. O filho, então, decide criar seu próprio caminho, e é doloroso ver os filhos tomando caminhos que não foram ensinados. Filhos que abandonam a fé causam grande dor, como aqueles que, às vezes, vão embora e nem sabemos para onde vão. A reação, quando um filho volta para casa, é a mesma do Evangelho. Não se perguntam onde esteve, o que fez ou por que fez aquilo. A primeira reação é acolher, com alegria. Geralmente, dizemos: “Que bom que você está aqui!” É isso que o pai faz em nossa vida de fé. O pai sempre acolhe, independentemente de nosso estado. A fé que temos é uma fé de reconciliação, de recomeçar o caminho com Deus. Deus nos olha com misericórdia e não fecha a porta, mas nos acolhe mesmo quando caímos.

Provavelmente, o que aconteceu com o pai, depois de acolher o filho, foi perguntar: “O que você fez? Como posso te ajudar?” O Evangelho não fala isso, mas é natural que, após o acolhimento, o pai queira caminhar junto com o filho. Por outro lado, também podemos nos sentir como o filho mais velho. Pensamos: “Eu estive tanto tempo com Deus, fui batizado desde criança, fiz catequese, participei da infância missionária, fui do grupo de jovens. E agora, vejo aqueles que se converteram recentemente e parece que Deus dá mais graça a eles do que a mim.” Esquecemos que o grande tesouro está na presença de Deus. O filho mais velho não consegue ver o tesouro que é estar constantemente na presença do pai, fazer a sua vontade, caminhar com ele e trabalhar pela obra do pai. Na nossa vida de fé, a verdadeira alegria está em sermos filhos de Deus, e seguir o caminho de Deus.

O filho mais novo abriu-se para a realidade de uma necessidade, mas estava plenamente consciente de que, ao estar com o pai, ele teria a vida. O filho mais novo, ao voltar, diz: “Já não sou digno de ser chamado de filho.” E, em nossa realidade, quando nos afastamos de Deus pelo pecado, às vezes sentimos a mesma coisa. Passamos pelo mesmo sentimento: “Não sou digno de estar com você. Não sou digno nem de falar com você, nem de rezar, nem de pedir.” Mas esquecemos que a realidade de que somos filhos de Deus foi Deus quem nos deu no batismo, e não somos nós que podemos tirar isso de nós. Somos filhos de Deus, e essa realidade é maior do que o pecado em nossa vida. Não nos descaracteriza, mas somos chamados a fazer esse caminho de volta, com confiança e esperança.

Nosso fundador,padre José kentenich,  no ano de 1937, há quase 100 anos, dizia que um caminho seguro para a vida espiritual é trilhar o caminho da filialidade, sentindo-nos realmente dependentes e confiantes na vontade de Deus. Devemos ser como filhos  confiar no plano do pai. Se formos levar para um exemplo concreto, podemos imaginar uma criança aprendendo a caminhar, com o pai, a mãe ou o irmão mais velho, um de cada lado. O pai se abaixa e diz: “Vem.” A criança, que ainda não sabe caminhar, dá seus primeiros passos, confiando no apoio do pai e da mãe. A nossa experiência de sermos filhos de Deus é confiar nesse “vem” de Deus, confiar no plano que Ele tem para nossa vida, aprender a nos abandonar na graça de Deus e no plano d’Ele, e sentir realmente que somos filhos de Deus, abrigados no coração de Deus Pai. Ninguém pode tirar isso de nós.

Somos chamados a construir esse caminho, assim como o próprio Filho de Deus fez, abraçando a cruz, abraçando o sofrimento das nossas vidas e tendo esperança na ressurreição. Peçamos, neste dia, que possamos olhar para Deus como esse pai misericordioso para as nossas vidas e dizer: “Obrigado, Senhor, porque neste caminho, me alegro por estar na sua presença.”

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Texto retirado da homilia do dia por Sueli Vilarinho

vídeo: Marcos Bastos: Click aqui