Dia 6 de julho de 2025, a Santa Missa foi realizada no Santuário Sião Jaraguá pelo padre Gustavo Hanna Crespo. Em sua homilia o padre reflete sobre a palavra de Deus nos convida a uma profunda reflexão sobre a alegria verdadeira. Isaías nos chama a nos alegrar com Jerusalém, Paulo nos lembra que nossa única glória deve ser a cruz de Cristo, e Jesus, no Evangelho, envia os discípulos em missão e os orienta a não se alegrar pelos resultados, mas por terem seus nomes escritos no céu. Também meditar sobre o que significa ser discípulo no caminho, acolher a cruz, lidar com a rejeição e permanecer firmes na alegria que vem de Deus.

Na primeira leitura (Is 66,10-14), é um momento de alegria. Isaías convida o povo de Israel a se alegrar, a se alegrar com todos aqueles que olharam para Jerusalém, por todos que também passaram pelas mesmas tristezas que Jerusalém passou. Esse convite é feito também a nós, povo de Deus reunido em torno do altar na celebração eucarística: sermos alegres porque agradecemos a Deus. Ou, como diz o finalzinho do Evangelho (Lc 10,20), nos alegrarmos porque os nossos nomes estão escritos no céu.

E São Paulo (Gl 6,14-18) vai dar a pista de como isso acontece: é pelo batismo que nos tornamos filhos de Deus. Ele vai dizer que não é só o povo eleito que pode aceder ao Reino de Deus. O povo de Israel, a tribo de Israel — como se pensava no Antigo Testamento — achava que só eles poderiam ir para o céu. Mas agora todo povo pode. Por isso, ele faz a distinção entre os circuncisos — os que pertenciam à raça de Israel — e os que não pertenciam. E Paulo diz: não! É pela cruz do Senhor que todos nós somos inseridos no mistério de Cristo. É pelo batismo que abraçamos a cruz do Senhor. E é também pelo batismo que nós nos alegramos com a vitória de Jesus e nos tornamos discípulos Dele.

O Evangelho de hoje (Lc 10,1-12.17-20) é tirado do capítulo 10 de Lucas. A gente conhece e sabe que o Evangelho de Lucas é um grande evangelho que fala sobre o discipulado — ou seja, o seguimento de Jesus. Em todo o Evangelho, o tema do caminho, de seguir Jesus no caminho, está presente.

Se a gente for recordar algumas passagens de Lucas, podemos lembrar: Maria, depois da Anunciação, se pôs a caminho para visitar Isabel e fazer o primeiro anúncio. José e Maria se colocaram a caminho para apresentar Jesus no templo. Aos 12 anos, foi no caminho que Jesus se perdeu e se reencontrou. Jesus chama Pedro quando ele estava terminando uma jornada — a pesca. Depois da ressurreição, os discípulos de Emaús encontram Jesus no caminho, abrem seus corações e O reconhecem ao partir o pão.

Irmãos, ser discípulo de Jesus é confiar que o final do caminho é vitória e ressurreição. E por isso nos colocamos a caminho e acreditamos. Mas também não devemos desprezar o nosso processo de santidade, pois passamos por alegrias, por cruzes. Assim como o profeta Isaías diz: nos alegramos, mas também nos entristecemos com os demais — com a certeza de que somos vitoriosos em Cristo.

No tempo da juventude, fazíamos as Missões da Juventude Masculina. Eu tinha mais ou menos 15, 16 anos quando saímos em missão. Saíamos batendo de casa em casa. Como a cidade era pequena, todo mundo sabia que os missionários iam passar. Então, a gente se alegrava — éramos, por assim dizer, as estrelas da semana.

Como diz Jesus no Evangelho (Lc 10,20): não se alegrem porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos no céu.

Estávamos eu e minha dupla caminhando. Batemos numa casa, alegres, e dissemos:
— Somos os missionários! Podemos entrar e fazer uma oração?

A senhora nos olhou, e com raiva respondeu:
— Peraí!

Veio até o portão e começou a discutir. Falou que estávamos errados, que era de outra religião. E nós, como aprendemos nas missões, nunca brigamos. Sempre tentamos estabelecer pontes. Tentamos conversar com paciência, mas ela estava dura. Por fim, fizemos uma última tentativa:
— Então vamos rezar juntos aquilo que nos une: o Pai-Nosso.

Ela falou:
— Não rezo com idólatras.

Um olhou para a cara do outro, e, lembrando do Evangelho, tiramos o sapato e dissemos:
— Nem o pó da tua casa vamos levar!

Naquele momento, nos sentimos como os discípulos do Evangelho de Lucas chegando numa comunidade que não os quis receber.

Nosso assessor na época, padre Alexandre, ficou muito vermelho:
— Vocês não entenderam nada! Não é para brigar com ninguém!

Mas nós dissemos:
— Padre, o Evangelho falava que era pra fazer isso…

E o padre Alexandre respondeu:
— Não! É para fazer pontes!

Pouco a pouco, fomos entendendo que o bonito mesmo é o entusiasmo que sentimos ao falar de Jesus. Só que às vezes a gente não aceita o desprezo. Queremos falar, mas o outro não quer ouvir. Aí queremos revidar, porque queremos sair por cima.

Mas na vida de discípulo de Jesus, precisamos aprender que muitas vezes também vamos ser desprezados no meio do caminho. E não podemos perder a fé de que o que estamos fazendo é o caminho do Senhor. Porque, se o próprio Jesus, como diz São Paulo, se glorificou numa cruz, quem somos nós para querermos glória sem cruz?

Ele nos salva passando pela cruz. Como Jesus, temos que abraçar as coisas boas e as coisas ruins que nos acontecem. E sabemos: a verdadeira alegria é ter o nosso nome escrito no céu.

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Texto retirado da homilia do dia por Sueli Vilarinho